sexta-feira, 19 de março de 2010

Gestão Sertaneja, o que está acontecendo com o seu Plan?

Por Filipe Andson
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“De fato, gira devagar!”
Essa foi minha conclusão após analisar, de forma geral, o PDCL de certas empresas de serviços de algumas cidades do interior nordestino.
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Tive o privilégio de passar duas semanas e meia visitando algumas cidades do Ceará, da Paraíba e da Bahia e fui consumidor de serviços de hotéis, restaurantes, postos de gasolina e lanchonetes, e em todos esses empreendimentos é nítida a ausência do Plan (planejamento) e do Check (verificação), elementos existentes no PDCL._

A maioria dos gestores sertanejos iniciaram seus negócios pela experiência adquirida em uma passagem por outra empresa ou se aventuraram em um empreendimento por oportunidade, observando o “sucesso” obtido por certos negócios de atuação local.

Um caso que nos ilustra essa afirmação foi em Patos na Paraíba. Na cidade natal do nosso colunista Caio Maribondo, há umas 04 ou 05 lanchonetes uma ao lado da outra e o curioso é que em todas havia em destaque o seguinte letreiro: “Temos suco de açaí”. Ora, exclamei eu, se todas têm suco de açaí, qual o motivo para tanto destaque? Curioso ao observar isso, perguntei ao dono de uma das lanchonetes, e a resposta foi desestimulante.
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- A lanchonete do seu João foi a primeira a oferecer o produto, mas rapidamente começamos a comprar açaí com o mesmo fornecedor dele. – Explicou o dono da lanchonete que entrei.
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Insisti com ele e perguntei: - Mas se você, o seu João e mais dois ou três concorrentes tem como diferencial o mesmo produto, o que faz sua empresa como diferencial para fidelizar os clientes?
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E ele emendou: - Na verdade não tem muito disso não. Observo o que os outros oferecem e ofereço também.
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Parei de puxar conversa porque vi que a lanchonete estava lotada e o dono tinha que auxiliar seus dois funcionários para tentar atender os mais de 30 clientes, naquele horário de rush (domingo à noite). Ainda com a pulga atrás da orelha, dei um pulo nas outras lanchonetes e vi que o movimento estava alto em todas e também observei que a espera pelo lanche era alta pra todo mundo. Então, conclui que a estratégia é baseada no ctrl C e no ctrl V (copiar e colar) da inovação do concorrente (nada anormal, pois em qualquer mercado isso é natural), contudo, como há demanda para todos, não é necessário maiores investimentos. Sério? E se essa demanda cair? Ah, se isso acontecer, aquele que tiver um pouco do planejamento fica no mercado e aquele que copia, talvez não consiga a tempo reverter sua situação.
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Outros casos engraçados foram: em Jacobina – BA, onde o cliente briga com o Orkut pela atenção do recepcionista do hotel; em Irecê – BA, onde se o cliente perder a chave do quarto tem que dormir na recepção do mesmo até amanhecer e o dono do estabelecimento abrir sua sala para pegar as chaves reserva; em Iguatú – CE, onde para acessar o serviço de wireless o cliente tem que descer dois andares com o laptop nos braços, para que o recepcionista coloque a senha de acesso, que ninguém pode saber inclusive os clientes, para aí então poder retornar para o quarto e acessar a internet, isso caso a conexão não caia e cliente tenha que realizar todo o processo de novo.
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Bom, aspectos negativos são fáceis de ser encontrados, até mesmo em cidades onde a gestão é desenvolvida. O que é espantoso e deve ser grifado pelo colunista é o volume de inovações tecnológicas instaladas nos empreendimentos sertanejos. Por mais que pela minha visão ainda haja uma forte necessidade de instituir o Plan (planejamento) e o Check (verificação) na Bússola de cada uma dessas empresas, é notória a garra do Do (executar) e o anseio pelo Learn (aprendizado e inovação) que configura um futuro cenário com fosforescestes aspectos de qualidade, competitividade e sustentabilidade.
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Um abraço a todas as cidades que nos acolheram e desejamos um sucesso na utilização de sua bússola.

2 comentários:

  1. Interessante essa colocação. Pude observar fator parecido, não muito longe. Ali mesmo no Jacaré, os donos dos bares não nos deixaram muitas alternativas ao cobrarem um valor considerável pelas mesas, no momento do pôr-do-sol. Só restaram os bancos de concreto ou as barracas de tapioca, para os que se interessam em admirar as belezas naturais, sentados e comendo. O interessante está no letreiro de cada barraca, todas dizem "café grátis" e quatro delas são patrocinadas pela mesma marca A de café e apenas uma pela marca B, empresas estas responsáveis pelos próprios letreiros das barracas. Ou seja, se você não é freqüentador assíduo para saber que a 1ª barraca derrete mais o queijo, ou a segunda barraca tem a massa mais fina de tapioca, você senta na mesa mais bem posicionada que ainda dê pra observar uma pontinha do sol e come sua tapioca com o café de graça tranqüilamente. Seu fator diferencial passa a ser a posição e não mais o alimento da barraca. O que ocorre no interior, na minha opinião é que, essas barracas estão ali para atender mais o mercado local por isso não atentaram para a chamada "vantagem competitiva". Diferente do Jacaré que já está mais acostumado a lidar mais com os turistas do que com os próprios paraibanos. É isso aí! Se for para as bandas de Puxinanã e Montadas eu tenho umas dicas melhores de locais. rs
    Abraços.

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  2. Morei no interior a maior parte da minha vida e concordo plenamente com o que foi exposto. Planejamento realmente não é algo comum nessas empresas, criar diferenciais competitivos é algo bem raro, fora o atendimento ao cliente que não é levado efetivamente a sério.
    É muito comum os consumidores escolherem os empreendimentos não pela qualidade, preço ou diferencial, mas pela figura do empreendedor, é muito mais uma relação de amizade do que uma relação comercial; fazer a feira em "Fulano" e não no mercado tal é bem comum por lá.
    Quando algo novo é implantado, também é rapidamente copiado, lembro que teve uma época em Taperoá que um mercado colocou um letreiro que o identificava, em menos de um mês os demais empreendimentos mais famosos da cidade estavam com seus respectivos letreiros; todas as mudanças significativas deveriam ser feitas em segredo, para que o concorrente não ficasse sabendo e acabasse copiando a ideia antes que o seu verdadeiro autor a realizasse.
    Também era comum flagrar donos de mercadinhos fazendo a feira (às vezes pessoal, outras pro seu mercado)na concorrência.
    São práticas comerciais que sustentaram-se durante décadas, mas que, em muitos dos casos, devem ser revistas; não de forma a acabar as particularidades regionais, mas para garantir a sobrevivência futura de tais empreendimentos.
    Amei a matéria! PARABÉNS!

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